quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Capítulo V



Apostilas, pastas e canetas - parte 1/2




Eu tinha que fazer alguma coisa, pois tinha certeza que aquela brincadeira terminaria em tragédia. Fiquei confuso, minha cabeça não parava de girar e aquelas vozes me dizendo o que fazer, eu não sabia de onde vinham, mas elas estavam ali em algum lugar, na minha mente. Foi então que eu resolvi ir atrás dos calouros para avisá-los. Mas como? Como eu faria isso? Além de trair a confiança do meu melhor amigo, eu estaria a favor de pessoas que eu nem conheço. - preciso tomar um ar - sussurrei para mim mesmo enquanto pensava no que fazer.

E assim o fiz. Aproveitei para dar uma volta no quarteirão, na tentativa de tirar aquela idéia maluca da minha cabeça. Comecei de vagar, pensando numa maneira de “melar” com a brincadeira sem prejudicar ninguém. Passos lentos se tornavam cada vez mais rápidos à medida que eu pensava, mas eu não conseguia achar uma maneira de evitar o desastre. Já estava correndo quando me esbarrei em alguém. Apostilas, pastas e canetas se espalharam pelo chão, tive um Déjà vu.

E eu estava certo, pois já tinha visto aquela cena antes. Era a garota do hospital, a nerd. _Me desculpe – disse eu já me retirando.

_Sem problemas – respondeu, tímida.

Já estava de saída quando pensei melhor. –Você é caloura? –perguntei.

Não sou muito fã dessa expressão, mas sim, eu sou. –disse ela em voz bem baixa. Suas mãos estavam trêmulas e sua cabeça abaixada, escondendo a face entre seus cabelos cacheados, maltratados pela falta de cuidado.

_Me desculpe, não me apresentei. Chamo-me Alex, e você? – perguntei, com medo de parecer um idiota, mas já parecendo.

_ Hannyen. – respondeu apressada e já ia saindo.

_Espere! – eu disse – Não vá à festa hoje, é uma armadilha para os calouros, na verdade será um trote!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Capítulo IV



O trote



Eram exatamente três horas da tarde quando meu celular tocou.

Eu: Residência do Dr. Carlos Andrade, com quem deseja falar?

Colin: Pára com isso Alex, eu sei que é você.

Bem, devo apresentar meu amigo de infância: Colin, que não larga do meu pé desde o jardim. Ele sempre esteve comigo em momentos felizes, enrascadas (afinal, ele nos metia na maioria delas ), momentos tristes, enfim, não larga do meu pé. Uma vez, na casa da tia dele, tínhamos sete anos, jogamos o gato dela pela janela, e depois a entregamos ele morto, ela teve um infarto e ficamos de castigo até mês passado. Brincadeira, só uma semana, ela já era velha. Mas voltando ao assunto principal...

Eu: Droga, nunca consigo enganar você.

Colin: Claro, eu que te ensinei isso!

Eu: Ah! É... havia me esquecido. (risadas)

Colin: Hoje eu estava combinando com a galera da nossa turma de passar trote nos calouros. O que você acha?

Eu: Estou dentro!

Colin: Tudo bem, vai ser lá naquele hospital abandonado da avenida Einstein.

Eu: O que? Mas lá é cheio de lixo tóxico!

Colin: Eu sei. Por isso escolhi lá.

Eu: Hã? Explica isso melhor Colin.

Colin: Vamos fazer eles engolirem tudinho, assim estaremos deixando a cidade mais limpa, faremos uma boa ação! Hehe!

Eu: Você ta maluco cara, é sério, aquilo lá é perigoso e...

Colin: Depois a gente conversa cara, tem alguém tocando a campainha, o trote vai ser a meia noite hein, não esquece! Chamamos os calouros, dissemos que seria uma “festa”. Falou cara.

Eu: Mas... droga, desligou.

Era para ser só um trote, ou talvez o maior trote da história da nossa escola, mas eu estava com um pressentimento de que aquilo iria muito além disso.